Saturday, December 30, 2006

Escola da vida?


A rotina de uma escola muda completamente com a entrada de um novo professor de história.. Mr. D como ficara conhecido contagiará a todos com sua metodologia de ensino. Com aulas mais dinâmicas e divertidas logo se torna o comentário da escola, até mesmo seus colegas de trabalho irão se afeiçoar com ele, apenas um dedicado professor de biologia não o verá com bons olhos. Warner tem motivos para ver Mr. D com um certo desprezo pois Warner é filho de uma lenda que ganhou o prêmio de professor do ano por 43 anos seguidos, e em decorrência da morte deste, escolheram um jovem e petulante professor para substitui-lo, o próprio Mr. D. Warner está obstinado, e tem pela frente a árdua tarefa de vencer Mr. D na corrida para levar o prêmio de professor do ano. Mas com seu método tradicional de aulas, será facilmente repudiado pelos alunos que o consideram no mínimo um chato. Esta disputa ainda se torna mais desfavorável para Warner quando o próprio filho é um fã declarado de Mr. D.
Esta é uma comédia que por sua vez que pega o espectador pela emoção. Há momentos onde as relações familiares se tornam o foco, principalmente na relação pai e filho, onde o pai desesperadamente tenta ser o melhor pai do mundo ao mesmo tempo que tem com meta primordial a conquista do prêmio que há 43 anos pertenceu a seu pai. Seu intuito é prejudicado quando não percebe ao ridículo que seu filho é obrigado a se submeter por esta brincadeirinha de seu pai. A trama vai evoluindo de forma previsível e no decorrer da história tudo que parecia que aconteceria realmente acontece, e no final quando um segredo do Mr. D é revelado todos choram muito e aprendem a lição.


Crítica:
Mais um filme que enfoca a relação professor aluno. Desta vez não esta em foco adolescentes rebeldes que marcaram clássicos como "Ao mestre com carinho" dentre outros. Desta vez o que conduz o filme é a disparidade entre dois métodos de ensino, que são encarnados na disputa entre dois professores. Um privilegia o método tradicional onde o professor tem seu lugar bem definido na sala de aula, e o aluno tem seu lugar e seu tempo de falar controlados pelo professor. O outro procura deixar o aluno a vontade e muda totalmente a estrutura física da sala de aula fazendo os alunos se sentarem em círculo deixando-os olhando uns nos olhos dos outros privilegiando também o contato bilateral entre eles. Apesar dos típicos clichês do cinema norte-americanos que acompanha todo o desenrolar da história, este filme é no mínimo pertinente ao contestar a rigidez estrutural do sistema de ensino tradicional. E incorporado no personagem Mr. D é exposta uma alternativa com mais dinamismo. E se não for esta uma forma eficaz na formação de indivíduos que se enquadram no grupo dos que sabem muito, certamente é muito eficaz na formação de indivíduos que sabem aprender por si próprios. Logicamente que tudo isto no filme é bastante limitado pelo enredo sentimental que foi criado. O filme passa ileso pelas generalizações explícitas, como: "o cara só é um bom professor porque é jovem". Na verdade Mr. D esta substituindo um velho professor que por 43 anos consecutivos foi considerado o melhor da escola. "História é uma matéria envolvente , todo professor de história é legal, os professores de biologia são muito chatos". A professora que substituiu Mr. D quando este estava doente era uma bruxa, já o professor Warner aderiu ao sistema de Mr. D. O filme no entanto, como todos os filmes que visam o adolescente deixa uma mensagem edificante, que é na verdade uma concepção clonada do filme "Sociedade dos poetas mortos": "Viva cada dia como se fosse o ultimo". Não é um filme contestador no sentido social por mostrar a visão de mundo de uma classe média americana já bem acomodada no seu espaço como cidadãos, sendo assim é difícil de utilizar esta obra no intuito de se Ter uma visão dinâmica da sociedade.
É entretanto um bom entretenimento.

O Sorriso de Mona Lisa



No melhor estilo "Sociedade dos poetas mortos", este filme contesta o tradicionalismo da educação americana na década de 50. Em uma sociedade onde ser mulher ainda era o mesmo que ser um andróide programado para servir o homem, uma professora de história da arte, tem como ambição pessoal, mostrar às alunas de uma tradicional escola para garotas, o quanto elas podem ter autonomia nas suas decisões pessoais. Seu desafio se torna louvável pelo fato desta escola estar inserida no contexto social da época, que visava formar boas esposas e donas de casa. Esta postura revolucionaria de Katherine (Julia Roberts) é o grande clichê do filme que soa um tanto anacrônico pelo fato de ser um tema bem pertinente à década de 50 onde se passa a história. É evidente que ainda hoje há uma grande submissão feminina em relação ao homem, porém já estamos na era das mulheres bancárias, administradoras de empresa, deputadas e até presidentes. Acho que um filme com um nítido conteúdo feminista hoje em dia não tem um grande valor no sentido de uma crítica social que é a grande proposta do filme. Esta trama pode entretanto ter um certo valor histórico no sentido de se mostrar a evolução do pensamento em relação à mulher durante este século, e pode ser uma forma de se constatar a nítida emancipação social e política da mulher desde os anos 50s.
É evidente que a personagem Katherine possui em si o elemento que representa a luta das mulheres por esta emancipação feminina . O que pode ter alguma relevância é o fato de que Katherine não é a típica feminista radical que praticava terrorismo em prol de sua causa, ela simplesmente nega a soberania masculina, e se considera emancipada. É ai que entra em conflito com a diretoria da escola e também com uma aluna. Esta postura é que se sobressai em relação ao feminismo tradicional. Pois ao invés de se ficar brigando por direitos iguais aos dos homens, é mais coerente não aceitar esta desigualdade. Ao invés de se atirar na frente de carruagens como protesto, seria mais digno não se submeter ao domínio do homem.

Monday, December 25, 2006

De encontro com o amor


Há tempos que não via uma comédia romântica tão agradável. Nesta obra de Brad Mirman, cujo nome original é "Shadows in the Sun", vemos o despertar da sétima arte em meio a tantas obras mirabolantes, que muitas vezes se perdem em suas próprias críticas sociais e se esquecem de no mínimo dar ênfase à estética. A beleza estética realmente é levada a sério nesta obra. A fotografia é deslumbrante, não há um só quadro que não seja de se admirar. Logicamente que tudo isso é ajudado pela bela locação, as belezas naturais de uma cidadezinha italiana são muito bem exploradas, as montanhas já desgastadas pela agricultura, como os campos verdes de uva. Os ambientes internos demonstram uma simplicidade quase real, como se pudesse-mos sentir o odor dos mantimentos.

Friday, December 22, 2006

Cama de Gato, um retrato da juventude burguesa do Brasil



Analizando "Cama de Gato" de Alexandre Stockler

Uma obra de impacto imediato, pois abala as estruturas de filmagem convencionais, além de trazer a tona um enredo que nos remete as mais profundas reflexões. Um filme corajoso, no mínimo, que entra nas entranhas da mentalidade da juventude de classe média brasileira, e certamente causará um mal-estar no espectador mais senssivel à cenas chocantes, mal estar maior sentirão os menos esclarecido a respeito desta juventude que se lança por aí em aventuras no mínimo contraditórias. Os pais destes jovens querem desconhecer o que se passa com seus filhos.Parecem anos luz de distância dos atos que estes praticam, só sabem que devem protege-los desta sociedade desigual em que vivemos. Basta encaminhar estes futuros advogados , publicitários, médicos para uma "vida pública correta", independente do que estes por sua vez fazem nas noites de São Paulo ou qualquer outra capital brasileira. O que vemos no decorrer do filme é uma certa ruptura com a geração anterior, que viveu o movimento hippie, o aparecimento brusco dos punks dentre outras manifestações como estas, como é demonstrado pela fala de um dos personagens do filme, o jovem gabriel, que diz: " não é mole ter nascido depois de toda aquela liberação dos anos 70; ter crescido enquanto os "darks" e o "punks" estavam mandando ver por aí, e chegar na nossa idade justamente quando não sobrou mais nada ... a não ser essa sensação de que antes ... as pessoas conseguiam fazer alguma coisa mesmo..." . Este jovem parece estar desprovido de qualquer atitude no sentido de mudar algo, apesar de ter consciência de que algo precisa ser feito. Este pensamento parece representar toda a classe média-altade brasileira. Estão munidos de um bom elemento teórico, mas não abrem mão de seus privilégios, e estão temerosos com uma possível auto destruição do sistema que mantém seus privilégios.
Alexandre stokler parece querer generalizar estes jovens se utilizando de fatos que chocaram a sociedade atualmente. Com por exemplo o caso do índio queimado por jovens de classe média -alta em Brasília. O que redime o diretor ´neste sentido foi a utilização de entrevistas reais com jovens que ainda não haviam assistido ao filme, os entrevistados parecem confirmar as táticas utilizadas pelos personagens da trama. Estes jovens parecem ser o paradigma do sistema capitalista. De cada crise que conseguem se safar se torna o epílogo de uma maior ainda. Não haveria nome melhor para este filme. Se você conseguir passar pela cena de estrupo sem fechar os olhos, conseguirá no mínimo pensar a respeito. Este é o mérito maior do filme. Não vamos ficar inseridos naquele "complexo de porno-chanchada" de que todo filme brasileiro deve ter uma cena de sexo que o defina como tal, "filme brasileiro é só putaria", coisas deste tipo não devem ser associadas a esta obra crítica e muito reflexiva. É importante que este filme chegue até os universitários e ao ensino médio, para deixarmos de lada muitas de nossas hipocrisias.

TRAUMA (tentativa de realizar algo urgente e minimamente audacioso), Pressupostos: Estamos mais preocupados em fazer filmes do que em discutir as possíveis razões das insuperáveis dificuldades de fazê-los, especialmente no Brasil. O comércio não é o que justifica a realização de um filme, mas sim o seu conteúdo. Conheça o movimento TRAUMA clicando em cima do titulo deste artigo.



Bicho de sete cabeças, uma critica à pisiquiatria, ou uma crítica "histórica" à sociedade que construimos??

Que sociedade construimos?
Parece que toda a estrutura psicológica do homem vem sendo moldada, através dos séculos pelo processo histórico que de alguma forma limita a ação deste homem em seu meio, ou em alguns casos derruba velhos limites, como por exemplo, os acontecimentos históricos que marcaram o século XVI. Sabemos que foi neste século que surgiram as primeiras contestações racionais a respeito das escrituras sagradas. A reforma protestante marcou uma ruptura interna, abalando toda a base dogmática da Igreja cristã. A teoria geocêntrica de Ptolomeu que era atestada pela Igreja católica, não mais se enquadra nos cálculos dos astrônomos daquela época. Copérnico através de novos cálculos chega à uma nova estrutura planetária onde a Terra passa a ser um simples astro que gira em torno do Sol, e não o contrário. Já no alvorecer do século XVII, Galileu conseque confirmar a teoria Copernicana com o auxílio do telescópio. E por esta atitude é condenado à morte pela santa inquisição. Ou seja muitos dogmas religiosos que determinavam a vida do homem até aquele momento estavam sendo questionados por cientistas. Surge o embate entre a Igreja e a ciência que se torna determinante na vida do homem a partir de então. Neste processo o homem passa a ser responsável por seus próprios atos.
A partir deste momento o homem passou a temer por seu destino, pois este não era mais uma vontade divina. De certa forma o homem fica um tanto desamparado sem aquela figura Divina que o conduzia . Surge então os conflitos internos ( ou seja os conflitos que eram travados dentro da própria mente do homem) que viriam a se intensificar no decorrer dos séculos seguintes até os dias de hoje. Vários pensadores vieram a desenvolver teorias a respeito destes conflitos da mente humana. Somente no século XX surgem as primeiras teorias no intuito de resolver tais conflitos, dentre estas, a psicanálise desenvolvida por Sigmund Freud.


Bicho de sete cabeças
Com o advento da psiquiatria no intuito de tratar as doenças da mente, surge também o preconceito em relação ao paciente que se submete a tal tratamento. No filme "Bicho de sete cabeças" de Laís Bodansky vemos um rapaz que sofre preconceito após deixar um hospital psiquiátrico, onde estava internado, por desejo dos pais. O circulo social que antes aceitava este jovem como uma membro comum, depois da internação passa a rejeita-lo, por se tratar de um "lunático". É nítido a linha anti-psiquiátrica que o filme adotafazendo uma crítica mordaz a esse tipo de instituição. No hospital psiquiatrico este jovem é submetido a um traamento um tanto ortodoxo, que chegara ao extremo de de ser submetido à uma sessão de elétro- choque. Para muitos este filme parece anacrônico, pois era geralmente na idade média que tratamentos que implicavam em dor para o doente mental eram praticados. Em pleno século XXI ( período em que se passa o filme ) não existiria tal procedimento. Porém o grande mérito deste filme é mostrar que em pleno século XXI Ainda nos encontramos perdidos em meio à tantas convenções humanas que influenciam nossa conduta social. Por exemplo: até que ponto é ilícito fumar maconha e não é ilícito fumar cigarro. O que sempre determinou isto foi uma simples questão legislativa do Estado. Tal lei proíbe o uso de tal produto que causa tanto mal quanto um produto similar que não há nenhuma proibição.
Vemos que o rapaz foi internado à força depois que o pai achou um cigarro de maconha na roupa deste, no entanto a própria mãe do rapaz é uma fumante compulsiva. Um personagem que retrata melhor a crítica de Bodansky é o médico que dirige o hospital, pois este é dependente de medicamentos que usa em conjunto com álcool. Talvez Bodansky tenha extremizado o enredo desta obra, mas tinha , a meu ver, um fim nobre, que era denunciar a nossa hipocrisia em relação a todo o comportamento dos indivíduos que nos rodeiam. Se não temos parâmetros racionais para definir o que é uma droga que implica em prejuízos para a saúde do indivíduo e o que é um remédio ou um simples controlador de euforia como são muitas vezes considerados o álcool e o cigarro, também não temos tais parâmetros para dizer quem é louco e quem é normal

"Aos Treze", Uma versão americanizada de Christiane F.


Este é o primeiro longa da diretora Catherine Hardwich, que tem como auxilio na elaboração do roteiro a jovem atriz Nikky Reed, baseado em experiências vividas ou presenciadas por ela própria, quando tinha 13 anos. Reed até ganha um papel na trama , é ela quem interpreta Evie, a má influencia que desvirtua a inocente Tracy .

O filme de Catherine Hardwich, não traz nada de novo, é difícil assisti-lo sem fazer uma analogia á outras obras que tratam desse tema. Parece que o objetivo central deste filme é apenas chocar, as vezes até se tem a impressão de que as cenas não possuem nexo umas com as outras, já que o critério para a edição das cenas parecia ser o grau de elementos chocantes que ela possuía. Talvez o mérito desta estrutura de filmagem é a constatação da chamada contradição da hipermodernidade – conceito desenvolvido pelo antropólogo Lipovetsk, para dizer que nunca houve pós - modernidade como se convencionou chamar o período mais recente da modernidade . O que parece estar acontecendo com a jovem Tracy é uma busca pelo extremo prazer, tudo se extremiza, na vida desta garota, ela encarna o "hiperconsumismo" americano ao se encher de pilhagens furtadas dos shopings sem o menor consentimento, fato que a própria mãe parece fingir não perceber. Por outro lado é interessante notar que a sociedade se torna cada vez mais moralista. Há mais de 20 anos , Christiane F., fazia coisas muito mais fortes que esconder um piercing da mãe. Sinal dos tempos.
Apesar do requinte do filme, que possui uma boa produção, não passa de uma versão "americanizada" de "Cristiane F", que perde para o original exatamente na crueza, no elemento crítico e na objetividade. Objetividade que faltou ao filme de Hardwich. Não se sabe se esta quis deixar claro às mães norte-americanas que: "é inevitável, sua filha vai ser uma puta drogada aos treze anos", ou "não seja muito amiga de sua filha, pois isto pode deixa-la assim", ou então simplesmente "vamos viver, este é o american way of life".
Mas também não vou negar que esta falta de objetividade se torna uma virtude, pois não tenta passar nenhuma mensagem edificante como os vários clichês deste gênero.